sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Amnésia - Memória de uma Viagem Inter-Estelar

Uma destas noites o Flash Gordão ia de transgaláctica viagem quando encontrou o Captain Powder (acompanhado...). Já não se viam desde aquela vez em que tinham revisto juntos o Rollerball no velho Metropolis, aquele cinema da três ziliões Láctea Via. Ficaram amigos desde então. Por isso radiantes desde agora. Mal se encontraram, decidiram que a ocasião pedia celebração. Tinham de ir juntos tomar uns copos e abanar os corpos.

O Captain tinha ouvido dizer haver no térreo planeta do sistema solar uma estação interstelar que estava a dar. Diz que fica na velha Europa, ali num pequeno jardim à beira-mar chamado Portugal, num canteiro chamado Francelos. Que gostava de lá ir. O Gordão não diz que não, que por ele tudo bem, vamos.

Consultaram o mapa Zen, programaram as coordenadas no macro do voador e Power... Flash... Vuum: Via Láctea... Sol... Terra... Europa... Ibérica... Portugal... Porto... Francelos. Chegaram num minuto. Breve, como convém a estes heróis pós-modernos da ciencional ficção.

Sensacional a ficção. Nela, os heróis chegam sempre bem mais rapidamente que outros modernos, não tão ficcionais, que ainda tripulam naves com rodas sobre vias de buracos. Como os terráqueos Silva e sua sónica, que vivem no Porto e demoraram dez minutos, inteirinhos e mal contados, para chegarem ao tal sítio...

Como o Gordão e o Powder são clientes ainda mais espacio especiais, ninguém viu por onde entraram. Aliás, parece que ninguém sequer os viu quando lá estiveram. Mas isso também não é assim tão surpreendente, pois não? Afinal, como é que são as noites de amnésia? Quem é que se lembra?

Luis Miguel Novais

(Excerto de um texto primeiro publicado no suplemento Mais do jornal Semanário, em 30 de Julho de 1988)